Rio
Sou o rio Jaguaribe e choro!
Choro, da nascente até a foz
Choro a solidão do abandono,
A solidão da indiferença.
Choro a água que não corre no meu leito,
As árvores ausentes de minhas margens,
Os pássaros que lá não cantam mais,
Os peixes ausentes a minha beira.
Sou uma mãe de leite ausente do seu peito
Que alimenta e dá vida aos filhos seus.
Sou uma mulher estéril de cujo ventre
Não saiu um só rebento.
Sou o Rio Jaguaribe e choro!
Choro porque de minhas margens
Não surgem as águas dos córregos,
Das lagoas e rebentões encharcados.
Choro porque às minhas margens
Não ouço o cantar das rodas de catavento,
Choro a ausência dos preás, dos tiús,
O grito dos carões, dos socós, das galinhas
D’águas e marrecos.
Acima de meu leito não voam
As garças preguiçosas.
Às minhas beiras não há grilos,
sapos, gias e caçotes.
As raposas soturnas, solitárias
E noturnas espreitando suas presas.
Onde estão os calumbis que me margeiam
Protegendo meus barrancos,
Dando guarida à fauna e flora
Tudo que é vida foi embora..
Gleisi Hoffmann Sobre A Tentativa de Golpe
Há 4 meses
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