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domingo, 5 de junho de 2011

Nosso Rio Tutelar/ Luciano Maia.

NOSSO RIO TUTELAR...



O Jaguaribe, em seu caminho desde a Serra da Joaninha, até entregar-se ao abismo de águas do Oceano Atlântico, experimenta e nos oferece toda uma variedade de aspectos geológicos e, por que não referir, locais e culturais, amalgamados por uma realidade mais ampla, a pertinência a um universo cujas ressonâncias mais fundas repercutem em nossa alma cearense de forma pertinaz e reiterada.

A minha infância é uma história e uma geografia intactas, para mim, e indissoluvelmente ligadas a todas as percepções futuras, porventura dadas a experimentar em minha trajetória, a partir das primeiras visões da minha terra, quero dizer, do Vale do Jaguaribe, onde está ubicada a Ilha de Parapuã, a Pátria dos Cataventos. Mesmo considerando que os cataventos, hoje, estão em sua quase totalidade substituídos pelos motores elétricos, não há como apagá-los da nossa memória afetiva, onde e quando movem as suas rodas e giram os seus leques ao sopro do vento geral, o Aracati de todos nós.

Devo referir, aqui, que me foi dado conhecer outras latitudes, outras línguas, outros povos, outras culturas. E ao mesmo tempo afirmar que, independentemente do interesse que nutro pelos estudos destes outros universos, a minha convicção de que pertenço a este País, que costumo chamar de País do Jaguaribe, é inarredável. Assim, esteja eu longe ou perto, ouvindo a nossa língua ou falando outro idioma, nada do que me nutre essencialmente desaparece, porque o seu vínculo comigo é essencial, tão entranhável quanto íntegro.

Disse alguém, em bom momento, que cada livro, por pequeno que seja, tem o seu destino. Lembro esta sentença e refiro-me ao livro Jaguaribe - memória das águas, este ano alcançando a sua nona edição brasileira, nos seus 27 anos da editio princeps, que é de 1982, e com edições argentina, norte-americana e romena, além de alguns de seus trechos traduzidos em francês, espanhol, italiano e corso. E justifico esta referência: todos os meus outros livros guardam, uns mais outros menos, uma relação com Jaguaribe- memória das águas. Não posso dizer-lhes se isto é bom ou ruim, mas posso confessar-lhes que isto me gratifica, quando constato que a força do Jaguaribe disseminou-se antes e depois do seu surgimento, provando o quanto a minha afeição por este rio é longa e vasta.

E por mor desta afeição, sinto-me na obrigação de conclamar, não somente às autoridades cearenses, principalmente àquelas ligadas ao território por onde caminha este rio, mas a todos os cidadãos do Ceará e do Brasil: não deixemos que este rio desapareça sob lixo.e sujeira! Algo tem de ser feito – e agora! – para salvarmos este rio. Que depois não nos arrependamos e nos desesperemos, diante da constatação dos nossos filhos de que fomos covardes diante da agressão malévola e reiterada ao velho Jaguaribe de outras datas, quando a lua tabajara mirava a lua paiacu a subir pelo Apodi a espelhar-se nas águas novas que desciam dos Inhamuns, do Cariri e dos sertões centrais do Ceará.Caras amigas, caros amigos: formemos um batalhão contra o sepultamento do Jaguaribe: ele está vivo, a nos pedir socorro!

Fortaleza-CE, 03 de maio de 2009
Luciano Maia

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