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Um Rio é como um espelho que reflete os valores e comportamentos da nossa sociedade. Você já olhou para o rio da sua cidade hoje?

sábado, 31 de janeiro de 2009

O Rio JAGUARIBE e sua Bacia Hidrográfica - SUA HISTÓRIA, SUA VIDA.

A maioria dos pesquisadores admite que do alto da serra da Joaninha partam os riachos Trici, Favela e Carrapateiras, e que se juntando ao sul da cidade de Tauá, formam o rio dos jaguares, rio das onças, ou seja, o rio Jaguaribe. Até sua foz, no oceano atlântico, em Fortim - , o rio faz um percurso de 610 km, para uns, para outros muito mais.
Desde 1708, ou seja, ao longo desses últimos 300 anos, a bacia do Jaguaribe assistiu a divisão de suas terras em sesmarias; observou as permanentes correrias, dos indígenas das suas ribeiras, que provavelmente eram nômades ou seja, não tinham residências fixas e transitavam do sertão para as praias e vice versa; presenciou os conflitos, entre o colonizador instalando os seus currais e seus ranchos, e os índios guerreiros, defensores intransigentes, do pedaço de chão que lhes servia de berço; e num silêncio mudo testemunhou o extermínio de vários Tapuias, o amansamento de outros; o escorraçamento dos Canindés, Icós, Janduins, dos Cariris, dos Paiacus...; a remoção dos Carius..., dos Jucás..., para outras áreas, se bem que jaguaribanas; assistiu à escravidão dos nativos e à batalhas sangrentas! E aos poucos, a bacia do Jaguaribe, ver seu solo ser ocupado pelo criatório, pela cultura do algodão e seu beneficiamento, dando riqueza e poder aos senhores do sertão jaguaribano; e viu surgir a cultura do coronelismo, da enxada e do voto. E assim, viu o “boi virar moeda” e a agricultura de subsistência substituir a sua mata original.
E no decorrer do tempo, a bacia do Jaguaribe vai assistindo ao desmatamento de suas várzeas, para ver se instalar as fazendas, os povoados, as vilas, e os distritos...E a partir do ano de 1735, quando viu criado o seu primeiro município, o de Icó , assistiu, ainda no século XVIII, a criação dos municípios de Aracati (1747), Crato (1764), Quixeramobim (1766) e Russas (1799).... No começo do século XIX, viu a criação dos municípios de Tauá(1801 ), Jardim(1814 ), Lavras da Mangabeira (1816 ), Jucás ( 1823)...e mais um...e mais outro... até que, no ano de 1868, ou seja, a 139 anos, assistiu a criação do município de Limoeiro do Norte, que até então era distrito de Russas....e em 13 de setembro de 1957 assistiu a criação dos municípios de Alto Santo, São João do Jaguaribe e o de Tabuleiro do Norte, que pertenciam a Limoeiro, há exatamente 50 anos ( Anuário do Ceará 2007-2008). E ao tempo dos 272 anos, que nos separam da criação do município de Iço ( que foi o primeiro ), até hoje, a bacia do Jaguaribe presenciou a fragmentação excessiva do seu espaço, e viu serem criados, os 81 municípios que atualmente formam o seu território, ou seja sua área de drenagem .Viu crescer as comunidades rurais, os campos agrícolas e aumentar o desmatamento das margens de seus rios. Ao longo desses três séculos, a bacia do Jaguaribe viveu mais ou menos 60 anos secos, registrados na literatura, fora os anos de chuvas escassas..., e testemunhou estarrecida, jaguaribanos esfarrapados, serem encurralados em verdadeiros campos de concentração... viu seu povo na miséria, morrer de fome, sofrer humilhações. Presenciou seu povo deixar a terra amada, em busca das cidades, onde passou a ser um miserável..., ou partir para a Amazônia, onde a borracha valia ouro, e de onde nunca mais voltou. Assistiu ao desperdício de somas fabulosas , destinadas ao combate das secas, onde as políticas públicas favoreciam cada vez mais a valorização do latifúndio, com as frentes de emergência construindo cercas, estradas vicinais, açudes e açudecos, em propriedades particulares.... Observou as frentes de trabalho corrompendo a tudo e a todos e viu surgir a indústria das secas. O rio Jaguaribe presenciou o desmatamento cada vez maior de sua bacia, e de perto, olhou a construção de grandes, médios e pequenos açudes, como solução para o flagelo das secas. E em 1906, na inauguração do açude Cedro,em Quixadá, o açude mais antigo do Brasil, cuja construção foi iniciada por D. Pedro II, em 1873, a bacia do Jaguaribe ouviu do então presidente da República, Afonso Pena , a seguinte frase: O Cedro “está muito bonito; mas isto só atesta o desperdício do dinheiro público, pois de nada adiantará para a solução do problema das secas”( Secas do Nordeste e a Indústria das Secas de Jorge Coelho ).

E tempos depois, possìvelmente no final do ano de 1962, ouviu de longe, o eco das palavras do baiano, jurista e escritor, Hermes Lima, primeiro ministro do Brasil, durante a breve experiência parlamentarista ocorrida no Governo Jango ( de 18 de setembro de 1962 a 1º de janeiro de 1963), que regressando de uma visita ao Nordeste, declarou no parlamento, que os grandes açudes do nordeste serviam “apenas para refletir a luz das estrelas.” ( A Civilização da Seca, de Brito Guerra – página 144 ). Foram proféticas as palavras, não só do Presidente, como as do Primeiro Ministro, pois durante muitos anos, as águas dos açudes ficaram simplesmente guardadas nos reservatórios, não resultando em nada. O próprio Euclides da Cunha refere-se ao açude do Cedro como “Quixadá único – monumental e inútil”( A Civilização da Seca, de Brito Guerra – página 143 ). 74 anos depois da inauguração do Cedro, e 19 da construção do Orós, o rio Jaguaribe, no dia 17 de julho de 1980, sentiu pela primeira vez, seu leito molhado, em plena estação seca. É o início da distribuição racional das águas de açudes, que através de uma válvula difusora, pereniza aproximadamente, 300 km do vale do rio Jaguaribe, a partir do açude de Orós, até sua foz, em Fortim, perdendo assim, o título de maior rio seco do mundo, e subindo ao pódio, como um rio perene. E a bacia do Jaguaribe, que também acreditava serem seus açudes inúteis, passou a acreditar neles, principalmente com o acréscimo de 90 km de perenização, no vale do Banabuiú, partindo do açude Arrojado Lisboa, ou açude de Banabuiú , como conhecemos .....,até se encontrar com o rio Jaguaribe, na altura da rua Joaquim Lopes dos Santos, no Bairro Luís Alves de Freitas, em Limoeiro do Norte, garantindo assim a agricultura irrigada nos seus vales perenizados.
A Jaguaribana, Maria do Socorro Freitas Pinheiro, nascida na cidade de Jaguaribe, divulgou em Salvador – Bahia, cidade onde reside atualmente, a perenização do Jaguaribe, através de sua voz, com música e letra de sua autoria.


O rio Jaguaribe
Quando secava chorava
Como se ficasse mudo

Em seu lamento de dor
Seu Leito ressequido
Coberto de areia branca

Foi um templo de miragens
Pelo sol abrasador
Mas, foi assim que o Orós

Deu as águas para o rio
Lá no Vale Jaguaribe
Para nunca mais secar



AÇUDE CASTANHÃO, MAIOR AÇUDE DO CEARÁ



A bacia do rio Jaguaribe, ao longo do tempo, assistiu seu povo perder safras, moradias, ficar desabrigado, com as águas que saindo do seu leito invadiam os campos e as cidades - as chamadas enchentes. E em março de 1960, percebeu um movimento estranho: helicópteros, e aviões do aeroclube de Fortaleza, sobrevoando seu espaço aéreo, soltavam panfletos, anunciando à toda população, a probabilidade de uma catástrofe: “a parede do açude de Orós, gemia ao peso de quase 600 milhões de metros cúbicos, de água represada”, subindo a cota, a cada minuto que passava. O rio Jaguaribe testemunhou o trabalho de centenas de homens e máquinas, tentando solidificar a barragem..., viu o desespero dos engenheiros..., e o pavor de 221 495 jaguaribanos , ameaçadas pelas águas do açude de Orós. Aquele mesmo açude, que Demócrito Rocha tanto defendeu, e que a população tanto sonhou , e tanto esperou. E não demorou muito..., precisamente às 10 horas do dia 26 de março de 1960, toda bacia do rio Jaguaribe ouviu um terrível estrondo. As águas armazenadas, no gigantesco açude, ultrapassaram o nível da barragem, e invadiram toda extensão do Vale do Jaguaribe, destruindo o que encontravam pela frente, levando de roldão, ou seja atropeladamente, povoações, cultivos, culturas e criações, deixando como rastro, a morte, a miséria, e o desabrigo, que vitimaram milhares (aproximadamente trezentas mil ) de pessoas.

E com o passar do tempo, a bacia do Jaguaribe começa a ver o crescimento acelerado das cidades, dos projetos de irrigação, e o enfraquecimento do poder das oligarquias rurais, ancoradas no binômio gado-algodão; assiste às mudanças nas relações de trabalho... São os novos direitos trabalhistas alterando a dinâmica social da bacia hidrográfica. E observa também as transformações nas relações econômicas e políticas, marcadas pela perenização dos seus vales. E a bacia do Jaguaribe ficou atenta à reorganização da FUNCEME (1980), à criação (em 1987) da Secretaria dos Recursos Hídricos (SRH), à criação da Lei sobre Política Estadual dos Recursos Hídricos (em 1992), e, em 1993, viu surgir a Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos – a COGERH, e os comitês de bacias.

O rio Jaguaribe ficou feliz, por ser o Ceará , o único Estado no Brasil, a ter uma companhia de gerenciamento de recursos hídricos, e passou a ver, suas águas serem levadas, por canais e adutoras, de locais “onde existem para” os locais “onde precisam”. Silenciosamente, o rio Jaguaribe observou o crescimento de sua população, viu seu povo, ocupar o seu vale, e percebeu que alguma coisa tinha mudado na sua vida! Sentiu que já não era mais o mesmo! Olhou para suas margens e notou que sua mata galeria, formada de carnaubeiras, juazeiros, mulungus, ingazeiras, mofumbos, calumbis, canafístulas, juremas, velames, marizeiras, jucás, pereiros, mutambeiras, hortênsias, marmeleiros, oiticicas e outras , não estava mais ali. Também não estavam mais ali os pássaros que cantavam nos seus galhos! E onde estavam os preás, os tatus, os tejos, as raposas, os camaleões, os pebas, os tamanduás, os guaxinins, os gambás?


CARNAUBEIRAS



O Rio Jaguaribe percebeu que suas águas já não corriam mais livremente: bancos de areia, buracos imensos, cercas, currais, estradas, estivas, construções, entulhos, lixo, muito lixo , vegetação e mais vegetação invadia o seu leito, deixando estreitos canais, por onde corria um minguado veio d´água! Olhou atentamente mais uma vez, e não conseguiu divisar suas barreiras, seu dique de proteção! Não viu as declividades de suas margens, estava assoreado, aterrado. E começou a perceber que estava com problemas! Sentiu o cheiro desagradável da água, percebeu a sua cor turva...viu esgotos, viu mosquitos, moscas, ...insetos e mais insetos... e sentiu medo do que viu. Onde estavam os peixes e os pescadores? O que fizeram comigo? O rio ficou pensativo, e se questionando. Eu conto a história de um povo! E quem conta a minha história?


OITICICAS



Poetisas e poetas contam a história do Jaguaribe, entre muitos, os irmãos Otacílio Batista e Dimas Patriota, de saudosa memória, Antônio Adriano Mendes , José Dantas Pinheiro, Verônica Oliveira, os irmãos Virgílio e Luciano considerados os poetas das águas, Rufino Maia e Silva, Mestre Sombra, Magela Colares, Sávio Leão, e Irajá Pinheiro, cujo soneto, recorda o rio da sua infância, e conta um pouco da história do rio .


O meu rio corre por trás de minha rua,
Majestoso, abraça esta cidade,
Sua história generosa é verdade,
Suas águas refletem a luz da lua.

No verão, viras campos de pastagens,
Suas areias são fagulhas de brilhantes,
Lágrimas tristes deste rio infante
Choradas em grandes estiagens.

Trilhas e estradas para mil carros de bois,
No comércio de algodão e charqueadas,
Nas oiticicas, repouso e coordenadas.

Várzea e serra, tapera só pra dois,
Posto e dormida para bois e boiadeiros,
Poços e árvores, repouso de guerreiros.

















O que me aconteceu, que eu mudei tanto? Dei vida a esse povo, dei vida a esse espaço! Sim, eu sou água! E água, é vida! Onde estava o jaguaribano que não compreendeu o que estava acontecendo? Por que cruzaram os braços, por que me viraram as costas, por que perderam o respeito pela vida? Afinal onde está o homem? Onde estão as mulheres? Onde estão os jovens? As crianças? Nas escolas, nas faculdades? Nos campos irrigados, nas indústrias, nos supermercados? No comércio, nos bares, nas feiras? Nas ruas, nas praças, nos campos de futebol? Nas instituições bancárias, nos mercados, nas construções? Nas igrejas, nas festas? Nas emissoras de rádios? Nas câmaras municipais, nas prefeituras, nos tribunais, nos fóruns? E o que fazem? O que pensam? No “aquecimento global” da terra, manchete da imprensa mundial? “No ritmo acelerado do derretimento do gelo polar” ou nas conseqüências do efeito estufa, que segundo os cientistas, serão terríveis? É bem verdade que a mudança do clima é a mais séria ameaça enfrentada pelo mundo de hoje. Mas nós, Jaguaribanos, temos uma crise ecológica que está muito mais perto de nós, está bem aqui, está bem ali, e que começa, na hora em que o rio Jaguaribe abre seus braços, na comunidade de Moita Verde, aqui no município de Tabuleiro do Norte e dá origem ao Córrego d‘areia, hoje rio Quixeré, e que reencontra o rio Jaguaribe, depois de percorrer 53 km, aproximadamente, à montante da ponte ilhota, na estrada Russas – Mossoró, dando origem à ilha Limoeiro.


Eu sou a ilha Limoeiro! Interessante, depois que foi construída a ponte senador Fernandes Távora,nós limoeirenses , esquecemos que geograficamente somos uma ilha. Eu sou a região dos afloramentos rochosos, o Bixopá das farinhadas, dos cajueiros e que recentemente recebeu por adutora, as águas do sistema SAAE, do rio Quixeré; sou a chapada do calcário, da Piamarta, da Frutacor...da Delmonte....do projeto Jaguaribe – Apodi cujas águas subiram chapada acima, levadas do meu leito, no rio Quixeré, na barragem das pedrinhas... Sou a planície fluvial das carnaubeiras, formada de sedimentos recentes, carreados pelas águas do Jaguaribe e do Quixeré. A planície da argila das loiceiras... a planície das águas subterrâneas, que alimentam as bombas de puxar água .... as cacimbas, ...os cacimbões... os motores elétricos..... A planície desmatada e ocupada pelas lavouras, pelas comunidades ribeirinhas, pela sede do município. A planície das bicicletas, onde os limoeirenses fizeram e fazem a história acontecer.

Sou a presença dos Rodrigues, primeiros colonizadores que povoaram os meus vales! Sou o resultado daqueles que aqui chegaram e ficaram... Mas só ficaram por causa das minhas águas. Originada da fazenda Quiri ou fazenda Limoeiro, me fixei na ribeira do rio das Onças, abraçada por dois rios, o Quixeré e o Jaguaribe, beijada pelo Banabuiú e pelo riacho Seco, eu sou de fato um presente do rio das onças , do rio Jaguaribe.

Eu sou o Rio Quixeré, braço do Jaguaribe, originado da sua bifurcação em Moita Verde, Tabuleiro do Norte....eu sou o antigo Córrego de Areia ..... Bordejo e corro paralelo à Chapada do Apodi. Hoje eu sou mais largo e mais profundo que o rio principal, o Jaguaribe, que após a sua bifurcação banha a cidade de Limoeiro e vai me reencontrar, no município de Russas. Minhas margens estão mais conservadas do que as do jaguaribe ....Também sou mais recente, e de fato banho comunidades rurais pequenas, como Córrego de Areia, Quixaba, Morros, Pedrinhas, Genipapeiro, Pasta, Várzea do Cobra, Saquinho, Tabuleiro Alto, Lagoa do Boi.....e a cidade de me deu nome ....Quixeré.
Eu, rio Quixeré, sou o resultado da ocupação desregrada do canal do Jaguaribe. Soterrado, as águas passaram a correr em maior quantidade no meu leito, e eu que era estreito e raso , chegando mesmo a ser ultrapassado com uma passada, como contam os mais velhos, ainda vivos, passei a ser o verdadeiro rio de Limoeiro, pois o Jaguaribe mais parece um fantasma do que foi. Barrando minhas águas perenizadas eu tenho a passagem molhada que fica entre Tabuleiro e Limoeiro , a barragem das pedrinhas, a do cabeça preta e a barragem e ponte Monsenhor Oliveira , entre Limoeiro e a cidade de Quixeré – todas elas funcionando como ponto de lazer, e com certeza, pontos também de poluição, se não estiverem sobre uma vigilância sanitária constante.

PASSAGEM MOLHADA TABULEIRO

BARRAGEM DAS PEDRINHAS

BARRAGEM DO CABEÇA PRETA


BARRAGEM E PONTE MONSENHOR OLIVEIRA

Sou o rio Banabuiú cruzado por uma ponte na Br 116, que atualmente alargada, dará mais segurança aos viajantes. Estou barrado por uma passagem molhada, outro ponto de lazer, e também de poluição e degradação ambiental, se alguém não tomar providências urgentes. Essa passagem molhada dá acesso às comunidades do Espinho, das Danças, e à Br 116. Eu rio Banabuiú, me encontro com o Rio Jaguaribe, de quem sou afluente, na altura da rua Joaquim Lopes dos Santos, no bairro Luís Alves de Freitas em Limoeiro o Norte; mas antes, à jusante da ponte Fernandes Távora, em um primeiro momento, minhas águas se juntam com as do Jaguaribe, através do córrego Carrapicho, dando origem a ilha Poró ou ilha dos Estácios. Na minha barra, ou seja, na minha foz, eu estou assoreado, degradado e poluído. Poluído sim, pois, um pouco acima da minha desembocadura, onde eu e o Jaguaribe passamos a caminhar juntos, nós recebemos o esgoto da lagoa de estabilização do SAAE, de limoeiro, sem nenhum tratamento.


RIACHO SECO - ESPINHO

No município de Morada Nova, eu, rio Banabuiú dou origem ao Riacho Seco.... Antes de desembocar no rio Jaguaribe, vou drenando as comunidades rurais dos Setores NH 4, NH 6 e S do perímetro irrigado de Morada Nova, o Congo, o Gado Bravo, Danças, Espinho, onde sou barrado por mais uma passagem molhada, a do Espinho, Gangorra, Sapé..... Na nossa região esse é o curso d’água mais comprometido , por conta de agrotóxicos, do projeto irrigado de Morada Nova. Eu sou o Jaguaribe, que corta o município de Tabuleiro do Norte, em uma pequena extensão..... antes da minha bifurcação, em Moita Verde, ou seja antes de dá origem ao atual rio Quixeré .....sou o rio principal, isto é.... nem sei mais se sou o principal, em cujas margens desmatadas surgiram os sítios, as comunidades rurais de Maria Dias, Gangorra, Malhada, Aningas, Faceira e a cidade de Limoeiro, que, não sei se por pura coincidência, já nasceu de costas para o mim. Você já viu a posição da rua Inácio Mendes !


Bem ou mal, todos estão perenizados! Vocês conhecem algum município cearense que tenha o privilégio, de ter quatro cursos fluviais permanentes, no seu espaço político administrativo, como o de Limoeiro do Norte ? Eu não conheço!
Eu, Rio Jaguaribe, sou a degradação... sou o lixo que gera as moscas, os mosquitos; Sou os apiários, sou o gado....; sou os esgotos da lagoa de estabilização e do mercado, que poluem as águas.... e que os homens ribeirinhos, lá na frente, bebem sem medo, pois eles não sabem como eu sou! Eles não sabem que tenho coliformes fecais.....Eu sou o excesso de plantas aquáticas,
sinal de poluição . Eu sou o forno de carvão, o entulho, o lixo .

Eu sou o entulho que aterrou o leito do rio , nas proximidades da câmara municipal de Limoeiro, o químico da lavagem de roupas, os buracos da retirada de areias, os tanques de piscicultura, as construções invadindo o rio! Eu sou a degradação, resultado de um povo sem conhecimento, sem educação. O que restou da minha vegetação natural?





Aqui acolá, você vai ver um exemplar, ou poucos exemplares de algumas plantas , que testemunham a sua presença, nas minhas margens, em épocas passadas: o calumbi, as marizeiras, o espinheiro, as carnaubeiras – essa agente, até que se ver; a canafístula, o mofumbo, as juremas pretas, o juazeiro, as oiticicas, estas também são mais freqüentes; o pau branco, o pereiro, as hortênsias.

Eu sou o Jaguaribe degradado. Eu sou o Jaguaribe, que mesmo com a perenização, continua sem águas com competência, para carrear os sedimentos, por conta das barragens na minha bacia . Eu sou o Jaguaribe que sofre um assoreamento desenfreado por conta do desmatamento das margens. Eu sou o rio assoreado, aterrado por sedimentos, com uma vegetação secundária a invadir o meu leito, impedindo as água de correrem livremente nas épocas de chuvas.

Eu sou o rio, de muitos poetas, de muitos escritores. Sou o rio denunciado por Melquíades Júnior, no Jornal Diário do Nordeste.

Não sou mais o rio do Luciano Maia
“ O Jaguaribe era solto
como um fogoso alazão
Conhecia o mar revolto e a revolta do sertão









Não sou mais o rio dos Jaguares de Virgílio Maia quando ele diz :


JAGUARES NÃO HÁ MAIS, É CERTO E TRISTE,
E NA DOR DESSA AUSÊNCIA EXISTE UM BRADO
QUE ABARCA O MUNDO, ENQUANTO, DO PASSADO,
A NATUREZA EXCLAMA, DEDO EM RISTE.

SE NÃO HÁ MAIS JAGUAR, NÃO SE OUVIRÃO
GARRAS E CORES EM CRUEL RECADO
NO BREU DE ABRIL ESQUADRINHANDO O OITÃO,
APAVORANDO CASARÃO E GADO.
SE JAGUARES NÃO HÁ, UM MAGRO RIO
CUMPRE, SÓ, O COMPRIDO DESAFIO
DE A SI MESMO VENCER - ASSOREADO.

MESMO ASSIM, VAI SUMINDO O NOBRE NOME
DO JAGUARlBE QUE, MINGUANDO, SOME,
RESISTINDO E MORRENDO – MUTILADO







Não sou mais o rio do poema “Meu Rio” do padre Pitombeira, musicado pelo cantor Eugênio Leandro:

Meu rio é como se fosse
Trás a graça das meninas
De prometer e não cumprir

Fecundas águas perenes
de segredos sussurrados
nas ramas das ingazeiras

chuveu , encheu, espumante
torrente ainda tão pouco
correu, correu que o mar bebeu
agora modesto regato

Não se passa no meu rio duas vezes
Não se passa no meu rio duas vezes
Rio sem meias palavras
De fúrias napoleônicas
Sangrou, chorou em Orós
Saltou cercas em Jaguaribe
rugiu no Castanhão
Acuou em Tabuleiro
Espreguiçou-se nas águas dos espinhos de Limoeiro
Até se espalhar nas baixas do Aracati
Rio dos jaguares, rio Jaguaribe
Rio dos jaguares, rio Jaguaribe

E agora? Onde é mesmo que essa história vai parar?

O passado do rio e sua história você já conhece!
O presente do rio é esse que você vê todas as vezes que vai ao mercado do peixe em Limoeiro do Norte - Ce. E o seu futuro?
Que deixaremos de herança para as próximas gerações?
Na era dos canais, como o do trabalhador, e o da integração, vamos deixar desaparecer o canal do Jaguaribe, que vem de Moita Verde em Tabuleiro do Norte - Ce, e vai até a barra do Banabuiú, no Bairro Luis Alves de Freitas, em Limoeiro do Norte? A população de Córrego de Areia há muito que luta por um canal, dentro do próprio rio, que perenize de fato, esse percurso. Dará certo? Claro, estamos na era da tecnologia!
Seriam os nossos antepassados culpados do rio que temos hoje? Culpados eu não diria! Teriam eles conhecimento suficiente, sobre as conseqüências dos desmatamentos, nos diques de proteção do rio? Saberiam eles o mal que estavam causando, com suas construções agredindo o rio ? Talvez não! Mas atualmente, nós sabemos! E o que fazemos ?


Que projetos tem a FAFIDAM, o IFC ( Instituto Federal do Ceará), os poderes executivos, os poderes Legislativos para salvar os nossos Rios ? O rio precisa de nós, clama por ajuda !
É difícil revitalizar um rio? Difícil sim, mas não impossível.


Quando é que vamos assumir o rio e seus problemas?
Que projetos educativos têm as secretarias de Educação dos municípios que formam a nossa região no sentido de priorizar o rio como elemento principal da nossa paisagem? E a secretaria de Cultura, de turismo, do meio ambiente, o CONDEMA e a imprensa falada e escrita ? Por que não utilizamos as emissoras de rádio, com vinhetas, numa política de educação ambiental para as massas?

Como recuperar o nosso rio ? Ainda é possível?
O rio é um só, em todo vale! Por isso as nossas ações têm que ser integradas à de outros municípios, e não individualizadas... Que estratégias teríamos que utilizar para integramos todo o vale do Jaguaribe em defesa de um grande projeto de revitalização dos nossos recursos hídricos? Como envolver políticos, empresários, povo, num projeto de recuperação do rio ? A quem compete gerenciar um grande projeto ecológico dessa natureza?
Que políticas teremos que desenvolver, para conhecermos melhor o rio e os seus problemas, e criarmos um projeto ecológico de valorização do rio, não só como área de lazer, mas como área de desenvolvimento econômico sustentável ?
Porque não fazermos trilhas ecológicas nas margens dos rios para melhor conhecê-lo?
Por que não criamos um projeto para conhecermos cientificamente as espécies que ainda existem na nossa fauna e flora e fazemos suas identificações?
Por que não construímos lavanderias públicas em diversos pontos, afim de que possamos tirar as lavadeiras do leito do rio?
Por que não programamos excursões ao delta do rio Jaguaribe para podermos deslumbrar o fascinante encontro das águas do rio com o mar , com paisagens naturais de inegável beleza, onde a ilha do Pinto se constitui , num verdadeiro santuário ecológico, apesar da ação antrópica?

Eu gostaria de terminar reproduzindo um pensamente de Lênin.
"Não basta ter belos sonhos para realizá-Ios.Mas ninguém realiza grandes obras, se não for capaz de sonhar grande. Podemos mudar o nosso destino, se nos dedicamos à luta pela realização de nossos ideais. É preciso sonhar, mas com a condição de crer em nosso sonho; de examinar com atenção a vida real; de confrontar nossa observação com nosso sonho; de realizar escrupulosamente nossa fantasia.. Sonhos, acredite neles."


Professora Iolanda Freitas de Castro.